21 JULHO 2017 postado por Apis Flora

'Sociedade das abelhas’ dita os rumos de Manoel

'Sociedade das abelhas’ dita os rumos de Manoel

Manoel, 70 anos, não se lembra da última vez em que ficou doente. Não toma um remédio sequer e não passa um só dia sem trabalhar. 
Trinta gotinhas de própolis todos os dias, mel no lugar do açúcar e uma paixão sem medidas pelo que faz: eis o seu segredo.

– Eu falo que devo quase tudo na vida às abelhas. E é verdade.

Na sociedade das abelhas, as funções são divididas por igual. Manoel Eduardo Tavares Ferreira diz que a rainha não dá ordens e trabalha mais que todas as operárias.
Ainda revela que as abelhas começam a trabalhar pela comunidade logo quando deixam o casulo. Sempre em grupo, com união.
O Manoel menino viu o pai ser perseguido pela ditadura, começou a trabalhar na adolescência, foi criado rodeado de leitura, na casa onde “podia faltar roupas, mas livros nunca faltava”.

Para esse Manoel, a sociedade das abelhas tem muito a ensinar ao ser humano que está longe de aprender.

– Na sociedade das abelhas todos sabem o seu dever e ninguém manda em ninguém. Politicamente, é uma sociedade socialista.

Manoel não pode mudar o mundo. Mas com as abelhas que tanto ensinam, sente que está fazendo a sua parte.
É sócio de uma das maiores empresas de mel e própolis do Brasil, um dos fundadores da ONG Pau Brasil, ativista das causas ambientais.

– Com todas as dificuldades que passei na vida, sempre tive a consciência de fazer o melhor possível para conseguir mudar um pouco esse mundo tão egoísta. Sempre pensei assim: só posso estar feliz se ao meu redor as pessoas estão bem.

Warwick Kerr, o homem que revolucionou a apicultura no Brasil.

Aos 15, 16 anos, Manoel participava de um grupo de estudos chamado Colméia, na escola Otoniel Mota, mas pouco sabia sobre a vida das abelhas.
Na palestra que o Dr. Kerr fez para o grupo, os insetos tomaram sua atenção. Manoel ganhou um livro sobre as abelhas e saiu por aí a fazer experimentos.
Pegava enxames, tirava abelhas de telhados, transportava de bicicleta as abelhas que fizeram parte do seu primeiro apiário, na mata de Santa Tereza.
Quando terminou o colegial, já estava mais que decidido a seguir pelo caminho das abelhas.
Passou em agronomia na USP de Jaboticabal e diz que vendendo mel para os colegas conseguiu se sustentar durante a faculdade.
Quando terminou o curso, em 1975, foi trabalhar com crédito rural em São Paulo, profissão que levou por sete anos, até voltar para Ribeirão Preto e decidir, com um amigo, trabalhar com os produtos que as abelhas dão.
Nunca deixou de ter seu apiário e sentia que era a hora de torná-lo empresa.

– A gente já tinha tanto mel que não conseguia mais nem dar para os outros.

Surgiu assim, em 1982, a Apis Flora. Além do mel, passaram a comercializar o própolis.

– Fomos pioneiros no Brasil. Fora do Brasil, já se usava própolis, mas aqui ainda não era utilizado.

Hoje, é o principal produto da empresa, que vende produtos das abelhas a outros países.
Aos finais de semana, era assim: o pai levava Manoel e seus quatro irmãos para caminhar na natureza.
Manoel conta que, naquela época, acima na avenida Nove de Julho era tudo mato.
A caminhada começava no Centro, onde a família vivia. Muitas vezes, iam andando até a mata de Santa Tereza, onde anos mais tarde Manoel construiu seu primeiro apiário.
Quando a ditadura veio, trouxe sofrimento. O pai passava meses desaparecido, fugindo dos militares por lutar por uma sociedade igualitária.
Manoel diz que, desde que começou a pensar o mundo, buscou uma forma sustentável de viver. Uniu forças com suas abelhas.
E vê que há ainda um caminho imenso a ser percorrido.

– A legislação ambiental avançou, mas não são avanços significativos.

Ele diz que, em alguns lugares do mundo, as abelhas estão sumindo, sufocadas pelo uso de agrotóxicos.

– O principal trabalho das abelhas é a polinização. Na China, estão fazendo a polinização das flores e frutos manualmente. Você vê a que ponto a humanidade está chegando?

Na ideia de fazer a sua parte,  coloca também os hábitos do dia-a-dia.
Não come carne, opta pelos alimentos orgânicos porque entende que, assim, o meio ambiente sofre menos.
Pensa em ir se aposentando até o final do ano, ir menos à empresa, deixar o legado para o filho e viver no sítio, com seu apiário e o verde que tanto faz bem.
Tem planos, porém. Quer criar um viveiro, transformá-lo em fundação e deixar para a comunidade.

– Eu acho que a gente tem que trabalhar até o fim da vida. Não parar nunca.
E segue.

– Pelo menos um pouquinho a gente ajuda, fazendo a nossa parte para ver um mundo mais justo e melhor.

Cada abelha sabe o seu papel na colmeia e, até o fim da vida, dá o melhor de si pelo todo.
Eis a sociedade das abelhas. Eis no que acredita Manoel.

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